21.12.12

Foto: Jéssica Raphaela

19.12.12

Desvontades.

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Era a manhã de uma quarta-feira qualquer e ela amanheceu cheia de desvontades. A euforia era enorme na ânsia de continuar na cama e não encarar o mundo. Queria apenas se esconder debaixo do cobertor. Vai que a vida  nem notou seu despertar e segue as horas sem exigir sua presença. Queria desfalecer novamente, em um sonho preto, sem história, sem memória.

Não estava triste, de fato. O problema todo é que se via obrigada a viver momentos que não queria. Ela não desejara aquela quarta-feira. Até se arriscaria a perdê-la, mesmo que se arrependesse lá na frente quando os dias decidissem ficar escassos. Assumiria o risco. Ela queria pular o tempo, dormir. Sinceramente, não via motivos fortes o suficiente para vestir sua fantasia de boa pessoa e andar por aí. Preferia o pijama de 'me deixe em paz'. Combinava mais com a desvontade dessa quarta-feira despropositada.

N'algum momento, entre a consciência e sono profundo, lembrou-se do tempo em que a vida lhe sorria em pleno meio da semana, quando a gangorra se equilibra e parece não inclinar nem para cima, nem para baixo. Lembrou-se que a motivação lhe vinha espontaneamente. Lembrou-se de como era estar apaixonada. Sentir que a vida de outra pessoa lhe dava ânimo para encarar os momentos mais indesejáveis, só pela expectativa do instante seguinte, do abraço seguinte, do beijo que estava por vir.

E foi assim, no meio de um monte de desvontades, que sentiu vontade de estar apaixonada. Ótimo momento para ter essa constatação! Levantou-se para encarar logo o mundo. E quer saber? Uma quarta-feira nunca foi tão dificultada assim.

17.12.12

Textos inacabados

Sou um livro de textos inacabados.

Começo um parágrafo, no meio tenho ideia para o próximo. Paro, pulo a linha e torno a escrever. As ideias são muitas. As contradições, tantas. Os paradoxos, inúmeros. Mas ainda assim, escrevo sem parar. Talvez, por não saber terminar. Talvez, por medo de tirar a caneta da mão. E se não houver mais letras no caderno? Acho que morro.

Reviso os textos, releio. Risco as contradições. Busco finais grandiosos, surpreendentes. Escrevo  alternativas, mas nenhuma me parece boa o suficiente. Me reescrevo neste livro que sou e, a cada texto, me torno um pouco mais de mim.

Sou esse livro formado por textos sem fim.

10.12.12

Cadê a luz?

Te busco. É tarde, a luz caiu mais cedo esta noite. Eu não enxergo bem, uso óculos desde os 12 anos e, quando a iluminação é pouca, fica difícil ver.

Lembro, no entanto, que também estava escuro quando te conheci. Te busquei no meio de vários rostos e te encontrei facilmente, como se toda a luz do local se concentrasse apenas em você. Estava escuro, mas você era claro comigo.

Quem apertou o interruptor? Quando anoiteceu?

A luz caiu mais cedo esta noite. Ainda não deveria ter escurecido. Já não importa. Não te procuro mais.

4.12.12

She`s all alone.

22.11.12

Caos.

- Você está trazendo o caos para a sua vida
Assim diz a voz que me convida ao desconhecido. Saio de um nível razoável para o zero num surto de coragem. Salto no escuro. O coração treme. O estômago gela.

A vida vem com essa mania de vomitar na minha cara oportunidades incomuns. Deus fica entediado em sua enorme existência se me vê quieta e satisfeita, levando a vida como quem navega em um barco seguro por um mar calmo. De repente, aparece um barco a vela e me convida: "vem?". O vento começa a soprar mais forte, gera ondas, balança o mar. Parece excitante pegar a carona inesperada. Mas o seguro mesmo seria continuar no meu barco.

Pulo no mar, sem garantia de barco, sem remo. Pulo na vida. Não sei nadar e acho que me afogarei, sempre acho. Mas também sempre espero que sobreviva e que, com isso, me torne mais forte.

- O segredo é não tentar organizar o caos.

19.11.12

A data.

Fico brava por você desaparecer da minha vida nos momentos que mais preciso, mas tenho que te agradecer por ontem. Era uma data que noutros momentos seria comemorada. Neste ano, só restaria melancolia. Talvez se tivesse ficado sozinha, a tristeza iria me encontrar facilmente. Mas você a espantou.

Obrigada, amigo. (:

9.11.12

Beijos neste teu belo coração.

Meu coração é seu também.
Um pedaço dele está por aí, num canto dessa cidade que eu desconheço.

Que eu possa juntar os pedaços um dia.

7.11.12

6.11.12

O parque. A saudade.

Foto: Jéssica Raphaela

Na memória de um dia bom, o que guardo é saudade. A grama voltava a ser verde, fomos passear no parque. Choveu dias antes e as árvores secas já não estavam com tanta sede. Nós não estávamos com tanta sede. Sem dar as mãos, caminhamos juntos. Eu sorri. Te abracei. Fui sua cúmplice, sua metade. Fomos parte de um dia claro, com céu azul e um lago espelhado. Sinto saudade desse dia bom. Espero que ele dure para sempre, mesmo que somente na memória.

A esquizofrenia do medo.

Às vezes é medo que você tem. Não é respeito, ou raiva, ou inveja. O que você tem é, simplesmente, temor. Na bagunça de sentimentos que a pessoa te causa, a que prevalece é a mais grave. O medo trava, paralisa.

Entretanto, dele nasce uma sensação paradoxal. Cria-se uma cumplicidade da qual não se tira explicação lógica. Você confia. Usa a pessoa que teme como amparo. Das situações complexas e doentias que os relacionamentos humanos podem causar, essa é uma das que mais me impressiona.

1.11.12

Mensagem?

Você está entre a consciência e o sonho quando, no escuro, passa a mão na cabeceira da cama e agarra o celular. Escreve o que acordado não teria coragem. Aperta o botão e envia. O último pensamento antes de dormir é um pedido que não haja resposta.

No outro dia, lá no meio dos afazeres, se lembra, sem a certeza de que a mensagem tenha sido real. Pega o aparelho torcendo para que tenha sido sonho. Não foi. Mas tudo bem, também não houve resposta. Simplesmente apagou o texto da caixa de saída. Era como se nunca o tivesse escrito. 

26.10.12

Relação rompida.


Não me lembro bem o dia em que desisti da cozinha. Peraí.. façamos um texto honesto aqui: não sei bem o dia em que a cozinha desistiu de mim. Lembro de ela ter fechado as gavetas, guardado as panelas no armário e esvaziado a geladeira só para eu não ter a ousadia de juntar alguns ingredientes e colocá-los no fogão.

Para mim, foi uma decepção ter rompido uma relação que poderia no futuro ser bem saborosa. Mas ela não me deu chances. Uma pena! Eu sonhava com o dia em que teria um prato especial, aquele que só eu saberia fazer tão bem e que todos me pediriam. Sonhava com o dia em que chamaria amigos e familiares para um banquete preparado por mim. Ao final, ouviria elogios e veria barrigas cheias, com braguilhas abertas, e ainda alguns pedidos de quentinha dos mais caras de pau. Os mais contidos pediriam a receita. Eu diria: “claro”, sabendo que o prato deles poderia até ficar bom, mas nunca seria igual o meu. Conquistaria todos pelo paladar.

No entanto, o sonho nunca pôde ser concretizado. Entre tantas tentativas de me firmar no fogão, teve torrada tão torrada que mais parecia carvão, arroz com aparência de risoto (o sabor não), empanado de frango congelado por dentro, mas queimado por fora... muitas especialidades, como você pode ver. Pena que não sejam apreciadas pelo grande público. Tudo bem, assumo! Eu era péssima. Nunca pude dar à minha mãe o orgulho de ter uma filha de mão cheia na cozinha. E muito menos, fisgar um rapaz pela boca, como se diz por aí. Que sina a minha! Confesso que, na infância (e até hoje), fazer bolos de areia em formato de coração era bem mais fácil.

Um pouco de prática, talvez? Eu bem me esforçava. Receita no balcão, respiração controlada, instrumentos ao alcance... mãos à massa. Fazia tudo conforme o recomendado. Mas a cozinha me sabotava. Sim! A cozinha! Não sei qual o problema dela comigo, mas sei que era pessoal. Ora a colher escorregava da mão; ora o fogo não acendia; noutras vezes, o leite fervia depressa demais. O ovo quebrava com casca e tudo no frigideira, o açúcar acabava exatamente quando eu precisava, o óleo pipocava na minha cara... Acho que é falta de empatia mesmo, sabe?! Olhei pra ela, ela olhou pra mim, e o santo não bateu.

São muitos mistérios, muitos detalhes. Cá entre nós, não tenho mesmo vocação para isso. Quem consegue dominar a cozinha realmente merece um prêmio. Morro de inveja de quem sabe fazer um prato especial em um dia qualquer. Morro de amores por homens que colocam o avental. Eu? Sou boa mesmo é em comer. Abro a braguilha, elogio e ainda peço a tal quentinha. Receita eu não cobro não. Peço um novo convite e levo uma garrafa de vinho em retribuição. A qualidade é mais garantida.

Depois que a cozinha não me quis nos bastidores, quem não quer mais fazer parte do show sou eu. Nossa relação ficou bem mais palatável assim. Água e óleo não se misturam. Pois bem, nada os impede de ficarem juntos. Assim ficamos, se é para visitá-la, que seja na hora das refeições.

25.10.12

Não aprendi a dizer adeus.

Meu humor anda suscetível a mudanças drásticas. Dou uma gargalhada num minuto; no outro, o desespero me faz chorar. Hora dessas, meus hormônios de matam. E a TPM veio com força dessa vez, de mãos dadas com uma tristeza sem fim.

Uma amiga de longa data colocou um vídeo no Facebook essa semana. Fiquei curiosa porque era uma música da saudosa dupla Leandro e Leonardo. Não sou de assistir vídeos bobos na internet, mas confio no gosto da amiga. Apertei o play.



Não tinha nada de bobo. Era a minha agonia toda decifrada em audiovisual. Poucos vídeos mexeram tanto comigo nos últimos tempos. Nunca tinha prestado atenção na letra também. Acontece que tudo se encaixou perfeitamente, cena e arranjo musical, com meu estado de espírito. Depois dele, "não tenho nada pra dizer, só o silêncio vai falar por mim".

24.10.12

Eu te amo.

Me pego rindo repentinamente. Lembrei de você.
Meu Deus, quanta saudade!


17.10.12

Sobre precisar de alguém.

Era um momento bonito. As palavras flutuavam soltas feito borboletas num jardim. Os dois deitados na cama, o vento entrando suavemente pela janela, querendo se intrometer na conversa alheia. A luz atravessava a cortina branca e chegava difusa ao rosto dela. Ele a olhou sem sorrir. "Você precisa de alguém para cuidar de você".

Sempre fora tão independente. Sempre em busca de si. De fato, ela procurava a si própria nos outros. Tentava entender as sensações que as pessoas lhe causavam, conhecia-se na pele de estranhos e ali fazia o próprio espelho. Não gostando do que sentia, andava um pouco mais. Uma nova pessoa, uma nova sensação, um novo pedaço de si. Tão independente. Tão livre da necessidade da presença alheia. Porque então ele se atreveu a falar tal incoerência?

No rosto dela, uma interrogação se fez. Um incômodo pela frase que ouviu. Será que ele não a conhecia o suficiente, mesmo depois dela se abrir tanto? Nele, ela conheceu muito de si, um pedaço bom, suave, sossegado. Mas desta vez, era a inquietação que se apresentara.

Antes que ela pudesse abrir a boca para questionar o comentário... "Não é que você precise de alguém para cuidar de você. É que você sente necessidade de compartilhar-se com outra pessoa", ele completou. O rosto dela se desarmou. Uma pausa para pensar e concluiu: ele estava certo. Olhou para a janela, a luz era clara, mas não ofuscava. E o vento balançava a cortina num movimento incrível. Era verdade: dividir o próprio peso com alguém deixava a vida mais leve.

10.10.12

Pois é.

Pois é, não deu
Deixa assim como está sereno
Do meu lado, a pessoa que me chamava de amor. Ser chamada de ‘amor’ por alguém, saber que é verdadeiro, quanta sorte é preciso possuir na vida para se ter essa sensação? No encontro, o sentido. O sorriso incontrolável de quem sabe qual direção quer seguir. É só ir em frente, abrir os braços, dizer ‘oi, amor’.
Pois é de Deus
Tudo aquilo que não se pode ver
A acústica do teatro fazia a música arrebentar meus tímpanos. O tempo era lento, a melodia, suave. Mas por dentro, a força do som era incontrolável. Tsunami, levava os sentimentos, lavava a alma.
E ao amanhã a gente não diz
Do amor, gastei toda a sorte. Me faltou abraço. Fez frio, arrepiei.
E ao coração que teima em bater
Avisa que é de se entregar no viver
Se tudo não passou de um sonho, se a música era uma interferência externa, porque a vida me levava sempre ao mesmo ponto novamente? Sem meu amor, o mundo era frio, mas também era leve. O mundo me é leve. Coloquei uma blusa de frio e rasguei o mapa que tinha nas mãos. Segui pelas ruelas do mundo. Me entreguei à vida, amor. Mas a morte caminha por perto. “Sem mais atrás vou até onde eu conseguir”. E que assim seja.

7.10.12

O arrependimento.

Desde aquele dia, choro com frequência. Penso em você, e choro!
Não é um choro de leve como outrora. É aos berros. Um choro farto e molhado.
Sabe aquela sensação que se tem ao olhar um machucado grave na pele de alguém? Um frio na barriga, um mal estar terrível, como se a ferida estivesse se abrindo no seu corpo também. Todas as vezes que refaço a cena, sinto algo semelhante. E aí, choro.

Quem te machucou fui eu. Eu poderia ter evitado, mas não o fiz. Não por maldade. Sabe que não sou uma pessoa má. Sabe? Não evitei, por ficar sem reação diante de uma situação nova e inesperada. Eu não sou uma pessoa que pensa rápido em respostas, você sabe. Sou lenta, e erro. Erro muito desde que você saiu do meu lado. Quando finalmente consigo pensar no que fazer, o acontecido já aconteceu. Fica só o lamento.

Faz dois dias e a dor ainda é a mesma. Fiquei sem chão. Acho que vai demorar pra passar. Talvez nem passe. É tão mais fácil ser vítima. O que fazem contigo, você não pode evitar. Mas ser autora da ação é difícil. Assumir que o erro foi seu, que você derramou gasolina e riscou o fósforo na pele de outra pessoa... essa dor acho que não passa.

É demais pedir seu perdão agora. Mas eu queria que você soubesse  que estou completamente arrependida. De tudo que passamos, tem sido o pior momento pra mim. E esse é meu maior castigo. Porque, por mais que você me perdoe um dia, pode ser que eu ainda não tenha me perdoado.

Sei que você não faria igual. Sempre foi tão melhor que eu.

27.9.12

Setembro generoso.

Setembro foi um mês generoso. Tão generoso quanto aquela tia que insiste que vocês aceite todos os quitutes existentes na casa, mesmo que você diga que não os quer de tão empanturrado que está. Setembro foi um excesso. Sem falar que foi um susto, um súbito, um “uau! Tudo isso é para mim?”. Vivi setembro como quem vive três meses de uma vez só. Tudo foi triplicado: o tempo ocupado, a saudade da família, o trabalho frenético, a falta do sono, a intensidade dos bons momentos, o carinho no serviço...

Levantei às 7 horas e deitei à 00h, praticamente todos os dias. No meio disso, um turbilhão de acontecimentos. Sono, muito sono! Na hora livre, das 14h às 15h, dormi embaixo de uma árvore, tirei fotos dos carros passando, toquei violão, dormi dentro do carro, rezei por chuva, ouvi os pássaros, dormi com a cabeça apoiada na mesa, ouvi o som do vento, sonhei com minha mãe...

Nesse mês me superei. Fiz mais do que achei que seria capaz. Me senti extremamente cansada nos minutos vagos, mas também me senti feliz. Meu corpo é que precisa sair do sedentarismo para enfrentar um ritmo desses. O tempo livre nunca foi tão valorizado. Jamais senti tanto prazer em colocar um chinelo nos pés, deitar na grama e fechar os olhos.

Achei linda a generosidade da vida, a bondade de Deus, que me ouviu todos os dias, durante o percurso zumbi cama-banheiro, pedir: “dá-me ânimo”. Ele me deu. Termino esse setembro farto farta, e extremamente feliz. Espero um outubro mais leve, mas não menos generoso do que o mês que passou.




18.9.12

Contraluz.



Na contraluz, só se vê a silhueta. Gosto da imagem. Fotografo bem com os olhos o que me parece bonito no mundo. Mas a imagem de alguém caminhando contra a luz me deixa a dúvida. O caminhar vem ou vai? Nos passos do indivíduo, há apenas o movimento. Pernas se cruzam, braços balançam, mas a direção é incerta. Sem rosto é difícil saber qual a frente, qual atrás. Vindo, indo? Não se sabe. Aí está a graça, o mistério. E a mente sempre aposta consigo mesma para descobrir a resposta.

Há pessoas que caminham assim na nossa vida, na contraluz. A gente não sabe se ela anda na nossa direção, ou se vai no sentido oposto. Se aproxima? Se afasta? Está perto? Está longe? Não há como deduzir, até que, num momento mágico, a certeza surge. Fica óbvio quando percebemos que o tamanho da pessoa se torna evidente. Maior do que antes, perto. Menor, longe. E aí nem precisamos especificar se o tamanho é físico ou se é sentimental, já que na maior parte do tempo eles são diretamente proporcionais. O problema é que pode ser tarde demais. É muita ilusão de óptica e, com ela, muita expectativa no olhar.

Não sei bem se há graça neste caso. Achamos que a pessoa está vindo, quando, na verdade, já se foi. Mas, assim como na contraluz, a mente brinca e faz suas apostas. O coração, que é bobo, cede ao jogo de azar. É uma pena que quase sempre perde.

6.9.12

Faça o que tem que fazer. O que gosta de fazer. O que quer fazer.
Daqui, eu vou torcer pra que esses verbos nunca entrem em conflito.

25.8.12

O casal.

Eu lembro dos último dias. Das últimas semanas. A sensação era pesada, já de saudade. Uma tensão de energias opostas, éramos opostos. Lembro de entrarmos no elevador. O espelho. Eu o abraçava e pensava em como éramos um belo casal. Pensamento este que era habitual, mas nessas últimas semanas, ressoava como uma onda devastadora. Doía. Como éramos um belo casal se a relação já não ia bem? Ou pior, como a relação não ia bem se ficamos tão perfeitos juntos? Lembro de, nos últimos dias, abraçá-lo forte, como quem se despedia. Eu sabia que poderia ser o último abraço. Eu sabia.

Hoje, vi uma foto nossa e tive o mesmo pensamento. Eu e ele, que bonitos juntos. Mas não foi pesar que senti. Foi uma saudade leve, livre, suave. Fomos um belo casal. Isso basta por hoje. Essa sensação sim reflete melhor o que éramos.

14.8.12

A saudade. A expectativa.

Me vi sentada na cama. Computador no colo. Palavras na cabeça. Chocolate na mão. Danei a escrever por ter no peito sensações boas e uma ânsia por vida. Estava no quarto quando comecei a relembrar momentos grandiosos que passei. Não vou listá-los aqui, não vem ao caso. A hora é de guardá-los no coração, na gaveta mais próxima às mãos para que eu possa mexer nas lembranças sempre que sentir vontade. Eu estava no quarto, mas a mente viajou o mundo.

A verdade é que ao mesmo tempo que olhei para trás, senti vontade de ir para frente. Nesse paradoxo cheio de lógica, sorri. Meus Deus, que vontade de viver mais, de aproveitar mais, de sentir mais. O mundo todo aí se oferecendo. É música, é cor, é toque, é cheiro... tudo isso à vontade! A ansiedade pulou aqui dentro. Eu não esperava nada concreto e ao mesmo tempo esperava tudo.

Respirei fundo, pedi calma a mim mesma. Permaneci sentada na cama, o sorriso estampado pela saudade, a vontade de fazer mais. A barra de chocolate chegou ao fim. Era 1h da madrugada. Amanhã sairia de manhã pra ver o Sol e celebrar os raios que me energizam a cada dia. Guardei o computador. Pausei as palavras. Apaguei a luz. Dormi. Tinha que descansar para o primeiro dia do resto da minha vida. Para data importante assim, a gente tem que tem que ter energia sobrando.

6.8.12

Pedro e a solidão de Marina.

- Talvez você esteja certo. A solidão é o meu lugar.

Marina pegou a bolsa em cima do sofá e fechou a porta. Depois de tanta briga, de tantas palavras amargas e secas, ela soltou sua última frase em um tom suave, quase sereno. Pedro já não a entendia há muito. Já não a aceitava. E ela não compreendia o fato dele ainda estar com ela, mesmo com tanto julgamento e desaprovação.

Ter companhia. Não ter. Ser feliz. Não ser. A montanha russa de sentimentos era repetitiva e previsível. Mas de uns tempos pra cá, o pico já não era tão alto. A descida, sim, estava cada vez mais ingrime, e sem freio.

Pedro já não segurava sua mão pelo caminho. Era só que ela andava. Ela fingiu que não significou nada, mas todos os dias durante o café da manhã relembrava as palavras ditas pelo rapaz num dia qualquer de fúria. "Eu estou do seu lado. Mas você merece a solidão".

Marina bateu a porta e Pedro ficou inerte, quase paralisado. Marina foi embora. Pedro é quem ficou só. Andaram durante um bom tempo pela cidade em busca de Marina, ele e a solidão.

25.7.12

Dia do Escritor.




Dia 25 de julho é dia do escritor. Foi bem nesse dia, há 23 anos, que minha mãe correu pro hospital sentindo dores que eu nem imagino como são para me parir. Foi assim, de repente eu vim a ao mundo. Deus deve ter me dado opções de dia, e eu escolhi o Dia do Escritor. Me pareceu uma boa data.

Incrivelmente, neste ano não tive crise pré-aniversário. Verdade que sentirei falta dos 22, já que nunca uma idade me soou tão par, tão completa. Mas não me senti velha, ou, se senti, isso não me doeu. Estive preocupada com outras coisas. Feliz com o trabalho novo, com a família por perto, com o carinho dos amigos. Triste com o fim de um namoro de quase 7 anos (e só de escrever, meu olhos se apertam). É bom ver que a vida está acontecendo, meio cruel, às vezes, meio violenta, mas suave também, como o vento balança a copa das árvores e faz aquele som delicioso de ouvir.

Hoje é dia 25 de julho. O dia me inspira vida, tudo por conta de vocês. É a serenata dos irmãos na porta do quarto à meia noite; é a ligação dos pais que estão longe; é a voz da avó que fica trêmula na ligação; é o almoço delicioso em baixo de árvores com os primos; é o ‘eu li amo’ dito pela prima na rodoviária; é o abraço gostoso dos amigos do trabalho (seguido de um monte de chocolate); é a visita inesperada enfeitada de perfume no fim do expediente; são as ligações, as mensagens, a energia positiva direcionada a mim, o “tudo de bom” dito várias vezes na minha timeline.

Por isso, queridos, gasto a última meia hora do Dia do Escritor para escrever pra vocês. Obrigada por serem uns lindos, por enfeitarem minha vida e por estamparem sorrisos no meu rosto.

Sim, que venham os próximos anos. E sim, que “tudo de bom” aconteça da minha vida (puxa! É muita coisa boa). Fiquem sabendo que essas coisas só terão graça com vocês por perto!

Com amor, Jéssica.


PS: É Dia do Motorista também, o que diz muito sobre o fato de eu ser quase uma pilota (essa palavra existe?). Além disso, é Dia do Trabalhador Rural, o que não faz o menor sentido e não acrescenta nada a esse texto.

23.7.12

Ímpar.


Img_5637-002_largeNão sou mais o seu par. Suas mãos enlaçam outra cintura que não a minha. Seus pés guiam passos de outro alguém. Um corpo desconhecido rodopia ao redor de ti.

Não estamos mais no mesmo salão. A música que ouvimos são diferentes.

E se hoje você dança com outra, meus passos guio sozinha, num ritmo novo, desconhecido e delicioso. Às vezes, tropeço nos meus próprios pés. Mas se caio, me levanto e tento o passo mais uma vez, e de novo, e de novo.

Danço na casa vazia, em frente ao espelho, no meio da sala. No salão cheio. Danço como quem flutua, num balé errado, seguindo o ritmo que a vida me deu.

Já consigo dançar sem par. Sou ímpar. Tão ímpar que, você sabe, passos como os meus você não encontrará nos pés de mais ninguém.

21.7.12

Meu luto.

Acontece volta e meia. Estou bem triste, mas por um segundo veloz algo me distrai. Dou uma risada de leve, quase sem querer. Imediatamente, me vem uma tristeza pesada que diz "porque diabos você está sorrindo? Não tem motivos pra isso". Me recolho ao meu lugar. Meu luto. Minha dor. Espero que passe. Espero.

18.7.12

Nêga, Nêga, Neguinha.


É tão fácil amar a vida quando penso em você. Dos momentos mais felizes aos mais árduos, lá está você, do meu lado. A sorte é que caímos na mesma família. Mas a verdade é que, mesmo se não fosse o sangue, faria questão de te manter por perto. Você é o tipo de pessoa que dá razão a minha existência. E, Meu Deus, como agradeço pela sua existência, Mila.

Hoje é um dia especial. Você faz 22. Só isso já é motivo para celebrar! Mas tenho que te lembrar que há outro aniversário sendo comemorado hoje também: nossa amizade. Ela completa 22. Não lembro o dia que te conheci, mas sei que hoje te conheço como poucos. E você a mim. Você me lê de olhos fechados.

Obrigado, prima, por existir. Obrigada, amiga, por me entender. Obrigada, irmã, por não me deixar sozinha nesse mudo. Eu amo você, Neguinha! Um dia a gente disse que isso era pra sempre. E será! Nosso pacto de sangue foi feito antes mesmo da gente existir!

Feliz aniversário, minha linda!

11.7.12

Doce amargo.

Foi até a cozinha e preparou um chocolate quente com biscoitos.
Se a vida tinha que continuar, mesmo com tanta tristeza, que ao menos o gosto fosse doce.

24.6.12

Sentido anti-horário.

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weheartit/sunneva   
Olhei o relógio por puro hábito num movimento corriqueiro repetido inúmeras vezes por dia e tive a sensação de que os ponteiros giravam ao contrário. Um segundo pra trás, um minuto, uma hora. Era o tempo regredindo ao ponto de antes. O anteriormente. O passado que ainda estava por acontecer.

Não sei se o tempo passou, se voltou. De tão impressionada, só conseguia olhar para o ponteiro girando ao contrário. Fiquei ali por alguns segundos (a mais ou a menos) nesse pretérito do futuro, futuro do pretérito, presente passado, futuro de alguns segundos atrás.... não sei definir. Mas foi bem assim mesmo, confuso e surpreendente.

19.6.12

Olhe e respire fundo.


Na rua, dia desses, me perdi.
Esqueci completamente de vencer.
Mas o vento lá da areia trouxe infinita paz.
- Teatro Mágico -

18.6.12

Estática.

O coração dispara quando leio. O impulso é imediato: travo. Fico estática. Só me resta silêncio pra ouvir meus gritos interiores. No fim da zoeira, o alívio. É bom saber que não sou a única suja. Quem tentou parecer limpo não passa de encardido. Continuo estática, por não saber como agir, por medo, por segurança. E assim fico.

2.6.12

Meio dia de um sábado.

Acorda. Cheiro de almoço vindo da cozinha. Desperta assustada. É meio dia de um sábado. Meio dia jogado fora com um sono desnecessário. Tempo desperdiçado. Não é mais tempo.

28.5.12

Leve.


Pense que eu cheguei de leve
Machuquei você de leve
E me retirei com pés de lã
Sei que o seu caminho amanhã
Será um caminho bom
Mas não me leve
Não me leve a mal
Me leve apenas para andar por aí

Chico.

16.5.12

Do sonho colorido.

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Deitou na cama, fechou os olhos e mergulhou num sonho rosado com gosto de suspiro. Caiu de nuvem em nuvem buscando o chão. Na falta, caminhou por entre raios amarelos de um céu azul. Um pássaro lhe disse: “voar é diferente de andar. Bata as asas juntas que é para não despencar”. E assim, aprendeu, depois, é claro, de tropeçar em vários balões.

As cores eram vivas, assim como era vivo seu corpo. Mais vivo do que jamais fora. Pulsando luz, exalando raios. Era ela num mundo mágico, que, por ser sonho, só a ela pertencia. “Um mundo só meu? Então o pinto das cores que eu escolher”. E aí, abusou na aquarela, com tons quentes e radiantes. Porque, embora no mundo real fosse inverno, no sonho, o verão parecia bem mais empolgante.

Acordou. Guardou no peito a lembrança de um mundo que jamais existiu. Jamais existiu? Enganou-se se pensou assim. Na noite seguinte, deitou na cama, fechou os olhos e dessa vez aprendeu a pintar nuvens e a consertar corações quebrados... Mas essa é história para outro momento. A menina vai dormir, porque o mundo dela não aguenta tanto adiamento.

15.5.12

O que interessa.


“O que você não quer contar é a única coisa que me interessa”, ele disse.

Na cabeça dela, só tinha espaço para um pensamento. Será que de nada adiantou a sinceridade dada a todo custo durante o tempo em que esteve com ele? Não era fácil ser verdadeira. Não por um desvio de caráter, nem por um vício frenético pela mentira. Não era fácil porque o mundo lhe cobrava uma máscara sempre que saísse em público. Ser assim, fazer assim, portar-se assim. As regras são claras, meu amigo, e dizem: “não seja tão clara assim”. Sim, a relação entre eles exigia uma certa dose de sinceridade. Mas, paradoxalmente, pedia umas gotas de falsidade, que, no fundo, seriam benéficas. Ainda assim, ela evitava perder-se num mundo de invenções que amenizassem a cruel realidade. A maquiagem deixa a pessoa bonita, mas só temporariamente. Com água, a beleza se desmancha. Ela não queria ser um rosto manchado. Mas um dia, decidiu que talvez a verdade não coubesse no momento. E para não mentir, omitiu.

“Não posso contar. Não vou”.

Ele pegou a jaqueta jeans surrada de sempre, fechou a porta de madeira antiga e foi embora. Não voltou.

A consciência dela nunca foi tão limpa. E o coração, tão leve e vazio.

6.5.12

Minha Lua.

Foto: Jéssica Raphaela

4.5.12

Pega teu barco e navega.

Tem uma voz que a todo momento sopra no meu ouvido:

"Vai.  Pega teu barco e navega . O mar é grande. As ondas são deliciosas para um bom mergulho. Vai. Sobe a vela e deixa o vento te levar. Para lá. Para cá. O que importa? Vai sem rumo, menina. Vai que o mundo te espera".

Eu, no entanto, continuo ancorada num escritório com janelas fechadas.


More Than This (Featuring Norah Jones) by Charlie Hunter Feat. Norah Jones on Grooveshark

3.5.12

Se me vejo feliz, quase sempre exijo um talvez.


Legião.

2.5.12

Pro amigo distante.

Quase sempre você acalma meu coração, amigo. Vem com palavras certas nas horas necessárias. Ou com palavras necessárias nas horas certas. Você sempre acerta, mesmo quando me diz que estou errada.

Sei pouco de você. Ao mesmo tempo, sei tudo. Você é uma parte minha que estava em outro lugar no mundo. Não sei o que me levou a te encontrar, mas o fez. E quando te imagino ai, no teu canto, na tua casa, na tua cidade, sinto um abraço apertado no peito.

Um dia você me falou sobre como nossa amizade te deixava atrapalhado. " Estou tão só que preciso amar alguém longe", você escreveu. Há momentos em que essa é a exata sensação que me aperta aqui. Sim. Estou tão só. Não me permito aproximações que julgue inseguras. Não me permito transparências e exposições. Mas, de repente, me abro para você. Abro a mente, o pensamento, os devaneios. E aí, eu me pergunto: estou tão só que preciso me abrir para alguém que está tão longe e que, na realidade, no mundo palpável mesmo, conheço pouco?


Sei lá se pensar isso tudo importa mesmo. O fato é que você acalma meu coração. Quase sempre. E entre meus amigos, hoje, você é um dos mais necessários. Só erra na distância e na falta de abraço. Vai ter que dar um jeito nisso, amigo. E logo!


Da Rapha.

21.4.12

Céu, Brasília e afins.



O céu. É ele que me motiva a existir no lugar onde sou.
Parabéns, Brasília.
Você é realmente linda!

18.4.12

É fácil pra você.

Para mim, não é.

16.4.12

Dos dias sem propósito.

Sabe aqueles dias sem propósitos? As horas passam lentamente para resultarem em nada importante. Tenho tido vários deles. Se agrupam em semanas. São as semanas sem função alguma. Você só tem que esperar para que a sexta-feira chegue e você finalmente se sinta menos só do que nos chamados ‘dias úteis’. Úteis para quem mesmo? Para mim é que não têm sido.

Hoje é segunda. O início de mais um ciclo vazio, que vai de nada a lugar nenhum. Faço uma lista de coisas a resolver nos ‘dias úteis’ que se seguem. A cabeça dói. O estômago embrulha. Meu corpo já sente que tempo demais é o mesmo que tempo nenhum. É como quando você coloca a cabeça para fora da janela do carro. Muito vento na cara. Ar em excesso. E o que acontece? Você não consegue respirar. É oxigênio demais para entrar nos seus pulmões.

As horas se acumulam como areia em uma ampulheta infinda. Cada grão cai lentamente, sem pressa de ser. Eu mergulho no tempo, ou melhor, sou jogada nesse mar de horas, sem escolha. E lá fico, inerte.

11.4.12


Monstros imaginários.

Não quero ser responsável pelos seus monstros imaginários.
Não quero.

10.4.12

São Paulo

Foto: Jéssica Raphaela


Foi andando pela Avenida Paulista que pensei no tanto de possibilidades que aquela cidade me oferecia. Foi ali, naquele ponto central, que eu quis chacoalhar a vida de um jeito que tudo mudasse. Soprar forte para que as coisas fracas voassem longe e que as fortes ficassem em seu devido lugar.

São Paulo me trouxe um ar de nostalgia. Mas nostalgia por algo que eu queria estar vivendo. É como se em um universo paralelo eu morasse lá. Aproveitasse as baladas da Augusta. Andasse pelo Parque Ibirapuera nos fins de semana. Trabalhasse feito louca de segunda a sexta. É como se lá eu fosse mais engajada na vida, se é que você me entende.

Aquele céu cinza nunca foi o que desejei pra mim. Mas, estranhamente, olhei pra cima e me senti parte de algo. Os prédios enormes. As pessoas andando. Carros, barulho. Vi beleza naquilo. Me senti pequena, sim. Mas me senti parte de uma coisa grande também. E foi bom sentir isso.

Sei que a grama do vizinho sempre é mais verde. Mas ando precisando pisar nela, senti-la nos meus pés pra ver se é diferente do que parece ser. Ando com umas ideias na cabeça e umas vontades no peito. Pernas prontas para andar, olhos no horizonte. Se me empurrarem, eu vou. O ideal era que eu mesma tomasse impulso. Veremos.

3.4.12

O trovão.

Está chovendo forte lá fora. Gosto do som das gotas batendo na janela. A chuva traz uma sensação triste, mas, ao mesmo tempo, boa. É como se o mundo mostrasse respeito por você não estar lá tão feliz.

O mundo gira rápido demais. Ultimamente, tem ultrapassado a velocidade permitida da via. Não tem sido uma zona segura e não sei por onde guiar meu carro. Dou voltas. E sinto que não chego a lugar nenhum.  Uma hora de cabeça pra cima, noutra de cabeça pra baixo.

Os raios fotografam-me sentada aqui na cama, do lado de dentro da janela. Os trovões são a voz do meu interior. Não entendo o idioma. Mas presto atenção. Deve ser algo realmente importante.

"O que você quer de mim, mundo?", grito quando o desespero bate.

"O QUE VOCÊ QUER DE MIM?".

Um violento trovão responde.

Não consigo decifrar a mensagem.

Sigo, na chuva, no meu silêncio.

26.3.12

Permissão negada.

Não tenho mais acesso ao que, de fato, me pertence.

Erro de conexão

Depois de dois dias sem falar com ele, liguei.
A operadora de celular logo se adiantou em informar:
"Erro de conexão".
Então, é esse o nosso problema? Essa é a causa do nosso desencontro? Logo ele e eu que sempre fomos tão conectados, sem ruídos e falhas.
Eu, que esperava por respostas há tempos, desisti de ligar novamente.

21.3.12

19.3.12

13.3.12

Eu não ia dizer. Ele disse.


Me entende, eu não quis, eu não quero, eu sofro, eu tenho medo, me dá a tua mão, entende, por favor.
Eu tenho medo, merda!
Ontem chorei.
Por tudo que fomos.
Por tudo o que não conseguimos ser.
Por tudo que se perdeu.
Por termos nos perdido.
Pelo que queríamos que fosse e não foi.
Pela renúncia.
Por valores não dados.
Por erros cometidos.
Acertos não comemorados.
Palavras dissipadas.
Versos brancos.
Chorei pela guerra cotidiana.
Pelas tentativas de sobrevivência.
Pelos apelos de paz não atendidos.
Pelo amor derramado.
Pelo amor ofendido e aprisionado.
Pelo amor perdido.
Pelo respeito empoeirado em cima da estante.
Pelo carinho esquecido junto das cartas envelhecidas no guarda-roupa.
Pelos sonhos desafinados, estremecidos e adiados.
Pela culpa.
Toda a culpa.
Minha. Sua. Nossa culpa.
Por tudo que foi e voou.
E não volta mais, pois que hoje é já outro dia.
Chorei.
Apronto agora os meus pés na estrada.
Ponho-me a caminhar sob sol e vento.
Vou ali ser feliz e já volto.

- Caio Fernando Abreu -

9.3.12

Não te enxergo bem.

Te vejo de longe. Sou míope. Sem os óculos, não enxergo bem. Por isso, chego perto. Mas você se afasta. Não te enxergo bem. Nada fica nítido. Perco os detalhes. Você está longe. É difícil te ver.


3.3.12

Da querida máquina de tortura.


Minha querida máquina de tortura. Foto: Jéssica Raphaela

Eu devia ter uns 13 anos quando peguei a gilette da minha mãe escondida e passei nas pernas. Tão novinha, já me incomodava o fato de ter pelos no corpo. Não lembro a razão do incômodo, mas ele existia. A questão é que eu sabia que em algum momento eu teria que começar a me depilar com frequência. Isso acontecia com toda mulher. Era um requisito para crescer. E eu queria ser grande.

Aqui no alto dos meus 22 anos, aproveitei a manhã de sábado para usar minha máquina de depilação. Eu precisava de um dia de SPA. Mas o fato é que eu detesto salões de beleza, então me viro por aqui mesmo. Quando tinha 17, meus pais me deram a máquina. Eu já tinha usado a da minha prima umas duas vezes e provei que era capaz de suportar a dor de ter meus pequenos fios de cabelo arrancados pela raiz.

Máquinas de depilação são torturadores corroborados pela sociedade. Mas o fato é que eu ficaria com a pele lisa por mais tempo e não teria que usar as lâminas que tanto irritavam minha pele. Mulheres aceitam a dor em troca da beleza com frequência e há séculos. Agradeço por não ter nascido em épocas mais duras para o sexo feminino. Além disso, sou incapaz de depilar com cera. Tentei uma vez e a sensação não foi nada boa. Preferi a máquina.

O meu pequeno aparelho é rosa, com um massageador que supostamente alivia a dor. Parece inofensivo. Mas não se engane. Dói... e dói com gosto. No começo, era música alta no som, muitos palavrões na mente, e umas três pausas com direito a uma caminhada pela casa. Com o tempo, você se acostuma com a dor e depila em questão de minutos. Nem sofre tanto mais.

Sim, eu faço parte da ditadura da beleza. Mas na ditadura branda. Me depilo porque Deus me livre de ficar com a perna cabeluda. Mas às vezes me dou o luxo de ser um pouco desleixada. Tem dias que coloco um jeans, uma camiseta e deixo a maquiagem no armário. O cabelo vai do jeito que eu acordei mesmo. Tem dias que respirar basta e me sinto bem apenas com o ar nos pulmões.

Mas aprendi que estar bonita faz eu me sentir melhor – desde que esteja confortável. Coloco um salto, um vestido curto, aproveito meus cachos para um penteado legal e passeio por aí. Aprendi a valorizar minha beleza. Aprendi a melhorar o que eu sou. Alguns sacrifícios são exigidos. Mas tento amenizá-los. Não faço nada só para caber em padrões de beleza (só às vezes, vai!), apenas quando esse padrão me agrada. Fujo deles o máximo que posso e me uso como ponto de partida.

Minha ditadura é consciente. Sempre reflito sobre ela enquanto minha maquininha da tortura arranca meus fios pela raiz. No final, aceito. A pele fica tão lisinha, sabe?! E é tão bom sair por aí mostrando as pernas.

2.3.12

Da companhia para minha solidão.

Na rua, ele me dá a mão. Passeia comigo por aí, sem pudor, sem vergonha. Senta comigo em um banco qualquer no meio da cidade, me faz rir, chorar, me deixa sem ar. O nome muda às vezes, mas é sempre ele, o livro, me fazendo companhia nos momentos mais necessários.

De um tempo para cá, aceitei minha solidão. Sou, por natureza, sozinha. Culpa da minha timidez, talvez. E fique sabendo que a solidão, quando não opcional, é bem cruel. Estar sozinha num mundo onde todos têm companhia é quase um castigo. Me cobro, por observar a felicidade alheia. Me cobro ousadia, extroversão. Mas não sou assim. E coisa difícil nesta vida é tentar ser o que não se é.

No meio da multidão, quem me abraça é a solidão. Mas o livro, que está ali ao meu lado, é quem me tira a preocupação de estar só. Com ele, a solidão é prazerosa. Aceito-me num mundo que mistura o meu e o de outros personagens. Ali parada, viajo a cem por hora em lugares novos, converso com pessoas que desconheço, faço novos amigos, me identifico naquelas criaturas fictícias, ou reais, dependendo da história.

Sento numa praça, pessoas vêm e vão. Eu fico parada. Observo. Gosto de observar. Mas quando olhar para o mundo me dói, recorro a histórias que não são minhas. Não são minhas em parte, porque, com o tempo, começo a vivê-las também. Aos poucos, as histórias se tornam minhas, ou eu me torno parte delas, não sei bem. Lá me refugio.

Do lado de cá, nem percebo que passei esse tempo todo só, ou melhor, perceber eu percebo, mas não me incomodo. Assim sigo, não mais sozinha, e sim acompanhada de mim mesma.

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17.2.12

Dos sonhos.

E aí ele surge nos sonhos bons mais uma vez, deixando a sensação de que meu coração já (re)encontrou seu canto.

11.1.12

Definição.

"Raphaela, (...) a gentileza em pessoa, e o desespero também".

Me definiu. Eu concordei.

9.1.12

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Quando o corpo padece.


Quando ela pensa que tudo vai dar certo, a vida desanda. As lágrimas já estavam a espreita no exato momento do sorriso fresco. O mundo dá voltas. Ela não consegue se mexer. Projeta a mente. Projeta a alma. O corpo, por sua vez, padece.

É na tristeza. É ao lamento que ela pertence. Não há saída. Desiste, menina!

3.1.12

Eu e a solidão.

Sempre tive um pedaço de solidão em mim. Um pedaço que às vezes é bem farto. Em todas as ocasiões.

Estou no meio da multidão, braços cruzados, boca fechada, sorriso acanhado. Me esforço por espaço, pra mim e pra ela, a solidão.

Estou com os amigos, sorriso sincero, voz abafada, mal estar, fico deitada. Me abraça, a solidão.

Estou em casa, portas fechadas, música alta, vozes lá fora, lágrimas aqui dentro. Seca meu rosto, a solidão.

Eu no cinema, eu no meu carro, eu de mãos dadas.

É sempre ela, a solidão, que me ampara. Debocha de mim dizendo: "olha você sozinha de novo". Me prova que, no fim das contas, estamos só eu e ela, pois os outros não se importam mesmo.

Me faz companhia, que contradição. A única que não me abandona: a solidão.