Toda vez que alguém me questiona sobre a razão de eu ter decidido viver certas coisas, eu travo. Não que eu paralise ou algo do tipo. Simplesmente começo a pensar no por quê, e o resultado é sempre o mesmo: não consigo acessar o exato momento em que tomei a decisão.
Foi assim com Nova York. Claro que os motivos são óbvios quando se pensa nessa cidade. Mas não lembro bem o estalo que me fez organizar uma viagem sozinha para o umbigo do mundo. Logo eu que nunca havia tirado o pé do solo brasileiro e que tinha sérias dúvidas sobre o meu inglês nunca antes praticado. Um surto de coragem me fez tomar as rédeas da vida e assim eu fui.
Lembro de ter comprado as passagens e, de repente, estar no meio daquelas ruas cheias de prédios de tijolinhos, no meio de um filme que eu mesma escrevi, produzi e protagonizei. Perdi a conta das vezes que ouvi a palavra 'corajosa' (e em quantos idiomas) , mas em todas elas eu só pensava sobre a minha insegurança e respondia "geralmente não sou uma pessoa corajosa". Meu personagem era assim, não costumava acreditar muito em si, e por isso sempre se surpreendia com os próprios feitos.
O roteiro do filme foi arrojado. Nada de explosões, terror, catástrofes. Estava mais para um texto a la Woody Allen. Uma comédia cotidiana, mas cheia de fatos inusitados, tudo no meio de um romance apaixonante e improvável.
O cenário foi perfeito. Eu andava pelas ruas e só faltava o cinegrafista para pescar uma cena. Tudo era muito encantado e lá eu percebi que nem era preciso tanta coragem como todos achavam. O segredo não era encarar Nova York, era encarar a mim mesma. Eu estava sozinha em Nova York, mas não solitária. Tenho que confessar: nunca fui tão completa antes.