15.5.12
O que interessa.
“O que você não quer contar é a única coisa que me interessa”, ele disse.
Na cabeça dela, só tinha espaço para um pensamento. Será que de nada adiantou a sinceridade dada a todo custo durante o tempo em que esteve com ele? Não era fácil ser verdadeira. Não por um desvio de caráter, nem por um vício frenético pela mentira. Não era fácil porque o mundo lhe cobrava uma máscara sempre que saísse em público. Ser assim, fazer assim, portar-se assim. As regras são claras, meu amigo, e dizem: “não seja tão clara assim”. Sim, a relação entre eles exigia uma certa dose de sinceridade. Mas, paradoxalmente, pedia umas gotas de falsidade, que, no fundo, seriam benéficas. Ainda assim, ela evitava perder-se num mundo de invenções que amenizassem a cruel realidade. A maquiagem deixa a pessoa bonita, mas só temporariamente. Com água, a beleza se desmancha. Ela não queria ser um rosto manchado. Mas um dia, decidiu que talvez a verdade não coubesse no momento. E para não mentir, omitiu.
“Não posso contar. Não vou”.
Ele pegou a jaqueta jeans surrada de sempre, fechou a porta de madeira antiga e foi embora. Não voltou.
A consciência dela nunca foi tão limpa. E o coração, tão leve e vazio.
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