3.3.12

Da querida máquina de tortura.


Minha querida máquina de tortura. Foto: Jéssica Raphaela

Eu devia ter uns 13 anos quando peguei a gilette da minha mãe escondida e passei nas pernas. Tão novinha, já me incomodava o fato de ter pelos no corpo. Não lembro a razão do incômodo, mas ele existia. A questão é que eu sabia que em algum momento eu teria que começar a me depilar com frequência. Isso acontecia com toda mulher. Era um requisito para crescer. E eu queria ser grande.

Aqui no alto dos meus 22 anos, aproveitei a manhã de sábado para usar minha máquina de depilação. Eu precisava de um dia de SPA. Mas o fato é que eu detesto salões de beleza, então me viro por aqui mesmo. Quando tinha 17, meus pais me deram a máquina. Eu já tinha usado a da minha prima umas duas vezes e provei que era capaz de suportar a dor de ter meus pequenos fios de cabelo arrancados pela raiz.

Máquinas de depilação são torturadores corroborados pela sociedade. Mas o fato é que eu ficaria com a pele lisa por mais tempo e não teria que usar as lâminas que tanto irritavam minha pele. Mulheres aceitam a dor em troca da beleza com frequência e há séculos. Agradeço por não ter nascido em épocas mais duras para o sexo feminino. Além disso, sou incapaz de depilar com cera. Tentei uma vez e a sensação não foi nada boa. Preferi a máquina.

O meu pequeno aparelho é rosa, com um massageador que supostamente alivia a dor. Parece inofensivo. Mas não se engane. Dói... e dói com gosto. No começo, era música alta no som, muitos palavrões na mente, e umas três pausas com direito a uma caminhada pela casa. Com o tempo, você se acostuma com a dor e depila em questão de minutos. Nem sofre tanto mais.

Sim, eu faço parte da ditadura da beleza. Mas na ditadura branda. Me depilo porque Deus me livre de ficar com a perna cabeluda. Mas às vezes me dou o luxo de ser um pouco desleixada. Tem dias que coloco um jeans, uma camiseta e deixo a maquiagem no armário. O cabelo vai do jeito que eu acordei mesmo. Tem dias que respirar basta e me sinto bem apenas com o ar nos pulmões.

Mas aprendi que estar bonita faz eu me sentir melhor – desde que esteja confortável. Coloco um salto, um vestido curto, aproveito meus cachos para um penteado legal e passeio por aí. Aprendi a valorizar minha beleza. Aprendi a melhorar o que eu sou. Alguns sacrifícios são exigidos. Mas tento amenizá-los. Não faço nada só para caber em padrões de beleza (só às vezes, vai!), apenas quando esse padrão me agrada. Fujo deles o máximo que posso e me uso como ponto de partida.

Minha ditadura é consciente. Sempre reflito sobre ela enquanto minha maquininha da tortura arranca meus fios pela raiz. No final, aceito. A pele fica tão lisinha, sabe?! E é tão bom sair por aí mostrando as pernas.

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