2.3.12

Da companhia para minha solidão.

Na rua, ele me dá a mão. Passeia comigo por aí, sem pudor, sem vergonha. Senta comigo em um banco qualquer no meio da cidade, me faz rir, chorar, me deixa sem ar. O nome muda às vezes, mas é sempre ele, o livro, me fazendo companhia nos momentos mais necessários.

De um tempo para cá, aceitei minha solidão. Sou, por natureza, sozinha. Culpa da minha timidez, talvez. E fique sabendo que a solidão, quando não opcional, é bem cruel. Estar sozinha num mundo onde todos têm companhia é quase um castigo. Me cobro, por observar a felicidade alheia. Me cobro ousadia, extroversão. Mas não sou assim. E coisa difícil nesta vida é tentar ser o que não se é.

No meio da multidão, quem me abraça é a solidão. Mas o livro, que está ali ao meu lado, é quem me tira a preocupação de estar só. Com ele, a solidão é prazerosa. Aceito-me num mundo que mistura o meu e o de outros personagens. Ali parada, viajo a cem por hora em lugares novos, converso com pessoas que desconheço, faço novos amigos, me identifico naquelas criaturas fictícias, ou reais, dependendo da história.

Sento numa praça, pessoas vêm e vão. Eu fico parada. Observo. Gosto de observar. Mas quando olhar para o mundo me dói, recorro a histórias que não são minhas. Não são minhas em parte, porque, com o tempo, começo a vivê-las também. Aos poucos, as histórias se tornam minhas, ou eu me torno parte delas, não sei bem. Lá me refugio.

Do lado de cá, nem percebo que passei esse tempo todo só, ou melhor, perceber eu percebo, mas não me incomodo. Assim sigo, não mais sozinha, e sim acompanhada de mim mesma.

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