18.12.13

A inquietude da paz.

Se a vida se move tranquilamente, quer dizer que tudo está no lugar onde deveria estar. Por que, então, sinto saudades de coisas que já não são, e por que sinto vontade de coisas que ainda não vieram? A vida se move tranquilamente e eu agradeço a Deus diariamente pelo amor que me toma o peito. Ontem conversando com uma amiga, falei sobre a paz de querer e ser querida, sobre o apego e sobre estar feliz. Estou tranquilamente feliz. Estranhamente feliz. Estou e sei que poderia não estar. É tudo uma questão de escolha. É tudo um atitude: libertar o coração que eu mesma acorrentei. Por que fui tão dura antes? Por que não me entreguei mais. Dessa vez, eu me deixei ser o que sou de fato. E assim encontrei calma.

26.11.13

As avós e a saudade.

De repente, a palavra ‘avó’ fanhou novo significado para mim: saudade. Foram 40 dias para ver pai e mãe órfãos. Perdi as duas, assim, de uma vez. Elas foram e deixaram tanta coisa boa, tanto ensinamento importante. Foram, mas ficaram bem aqui, do lado de dentro.

As lembranças passeiam soltas na mente. É a certeza de que existiram, como o sabor do prato de macarrão da vó Nair. O paladar nunca mais ficará satisfeito sem aquele macarrão e o almoço de sábado já não tem endereço fixo. Eu até lembro da última vez que o saboreei. Cheguei, como de praxe, e ela já foi falando “tá sumida”. As justificativas de falta de tempo parecem bobas hoje. O que é mais importante do que esses momentos, afinal?

Depois de dias na UTI, finalmente a encontrei no quarto de hospital. Foi a última vez que a vi. “Seu cabelo tá grande, Jéssica”, disse, carinhosa, sabendo que deixo o cabelo crescer há meses. Ela estava lá com aqueles olhos azuis, tão bonitos, bem abertos dessa vez. Tive muita esperança de que ela ficasse boa e fico feliz por esta ser a última lembrança dela, sem tubos, e sem tantos fios furando a pele frágil.

Queria que ela não tivesse sofrido tanto. Logo ela, que tinha uma saúde tão boa, que recusava carona quando a encontrávamos na missa. “Eu gosto de caminhar”. Ficou dois meses presa na cama, com os ossos frágeis. E apesar do momento triste, do susto e do cansaço, foi forte como poucos. Teve fé e manteve os olhos azuis abertos. Aceitou a morte sabendo que cumpriu a função. Como foi doce minha vó.

E se é pra falar em doçura, falo da vó Porfiria. Tão suave, exceto pelo abraço apertado que fazia o esqueleto das dezenas de netos mirrados se comprimirem. Era bom aquele aperto paraibano. Ele vinha seguido de uma bronca pela demora em visitá-la. Nos últimos dias eu estava de férias e ia vê-la várias vezes por semana, tirando o direito dela reclamar de qualquer abandono. Espero que tenha notado. Era atenta.


Lembro dela bem quietinha enquanto os muitos familiares - 13 filhos, vários netos, bisnetos e dois tataranetos - tagarelavam na pequena casa que por anos foi ponto de encontro da família. “Eu fiz uma família muito grande”, me disse uma vez, satisfeita, numa dessas reuniões. Um mês atrás, se recusou a sentar na mesa para dar lugar aos outros. Coração lindo o dela.

Essa quietude acho que herdei. Ficar no canto observando enquanto as outras pessoas falam sem parar. Ela observando a todos, eu a observando. O jeito sereno de quem já viveu muito - nasceu em 1920 - e viveu bem; de quem tem tudo sobre controle: o número de filhos e de filhos de filhos. Num ano novo, me tirou no amigo-oculto e para me revelar falou que tinha tirado a neta mais nova. Eu nem sabia que era eu. Depois de mim, uma penca de netos ainda, mas fui a última mulher. Que sorte o cargo de caçula.

Eu acho as duas incríveis e a ida delas deixa um vazio aqui na vida. As datas, escolheram a dedo. A primeira, devota de Nossa Senhora Aparecida, foi embora no dia da santa. A outra, esperou o aniversário de 93 anos para encerrar o ciclo. Sei que essa sensação de falta é compartilhada com familiares e amigos. Assim é bom que a gente se consola, e ri junto das lembranças boas, chora abraçado por causa da saudade. Ambas representam união nas famílias que criaram com tanta dedicação, e é assim que elas gostariam de nos ver.

12.10.13

Das caras e bocas.

Um amigo achou que seria legal fazer umas fotos. Eu topei. Mas ele disse que eu tinha cara de louca e deveria deixar isso ressaltar em mim. Bem, só ressaltou a timidez. As fotos ficaram ótimas, no final. Eu super recomendo o Jandher Ernane para quem quer ser fotografado. Ele é um querido e faz muito bem o que se dispõe a fazer. Olha só o trabalho dele aqui. ;)

 
Fotos: Jandher Ernane

Ele merecia o amor.

“Não merece tanto assim”, ela disse, brincando desnecessariamente com o que não se devia brincar.

Tudo que ele tinha pedido era um pouco de carinho. Se sentia digno disso. O relacionamento já tinha lá seus dois anos e por tudo que fizera para estar com ela achou que um pedido simples como esse só teria uma resposta. Ou melhor, nem resposta teria. Ela seria convertida imediatamente em cafuné no cabelo, cheiro no cangote, beijo na orelha.

Não mereceu o carinho. Não merecia suportar a falta de merecimento. Da brincadeira, nem a risada sobrou. Foi embora. Quem sabe, encontraria alguém com um pouco mais de afeto. Quem sabe.

17.9.13

You are like my secret garden


Vim dirigindo o carro enquanto tocava essa música. A chuva, que não caia na cidade há meses, fez o favor de aparecer e me causou uma sensação incompreendida. Um vontade de colocar algo para fora. Decidi que iria escrever ao chegar em casa. Sobre o quê? Não sabia.

Abri a porta do quintal, já estava de camisola e um vento frio fazia os sinos pendurados no telhado tocarem. Decidi mandar uma mensagem para quem tinha passado o dia inteiro rodeando minha mente. Quando penso em escrever, penso nele. Engraçado como as palavras simplesmente saem quando escrevo para ele.

Já de volta ao quarto, o celular toca. A pupila dilata, o espanto paralisa.. a resposta tem que ser rápida. Ordeno calma, fecho a porta e atendo a ligação. Pela primeira vez, o sotaque sulista adentra meus ouvidos. Matei a saudade dessa voz que nunca tinha ouvido antes. "Oi, Jéssica. Oi, Raphaela". De repente, ficou claro sobre o que eu deveria escrever.

Aqui está o registro, cheio de alegria, da autora que se encontra em sintonia com o mundo.

31.8.13

A Bahia.

Hotel Txai - Fotos: Jéssica Raphaela - http://instagram.com/jraphaela


Quando fui entrando na casa da dona Zélia, sem autorização, ela foi logo puxando a cadeira e oferecendo suco de graviola. "É feito de poupa da fruta",mostrou a sacola congelada guardada na geladeira. Falou da vida dela, os filhos moram em Salvador e ela vive sozinha em Arataca porque ama a cidade. "Mas a cidade ainda é a mesma de quando eu era criança. Nada evoluiu aqui. É uma vergonha", diz, indignada.

Eu descobri um mundo novo e bem curioso. E a verdade é que só queria pedir para usar o banheiro. Muitos baianos são assim, querem contato humano. "É bom quando vem gente de fora porque a gente sempre conversa as mesmas coisas com quem é daqui", desabafa Zélia. A pequena cidade estava mesmo cheia de gente de fora. Brasileiros de todos os cantos do país, canadenses, neozelandeses, franceses, suecos... A globalização de repente chegou ao município que nada evoluiu nos últimos 50 anos.

Enquanto andávamos a procura dos atletas (estava cobrindo a 10º edição do Ecomotion), um grupo de crianças e adolescentes começou a nos seguir. Achei a situação bem estranha. Sem acharmos o hotel em que a equipe Columbia Vidaraid estava descansando, viramos para uma das meninas que nos acompanhava sem convite e perguntamos onde ficava a pousada. Ela ficou estática, como se tivesse levado um susto estarrecedor. A sensação era que um personagem da novela das oito parasse de interpretar e falasse diretamente com ela. Muito estranho. Aquelas pessoas estão lá, abandonadas à vida pequena, e a qualquer contato com o mundo de fora, elas paralisam.

Eu estava cobrindo o evento para o caderno de esporte do Correio Braziliense. Foi minha primeira viagem como repórter e penso que não poderia ter tido uma oportunidade melhor. A corrida de aventura é um esporte que dá muita possibilidade de andar por lugares que você jamais iria por conta própria. Fomos, um grupo de jornalistas, num pequeno ônibus amarelo, pelo Sul da Bahia, de Itacaré a Ilha de Comandatuba (Una). Quando não estávamos no meio da mata e em cidades pequenas, ficávamos em um resort que ocupava quase a ilha inteira.

Antes de adentrar o paraíso, por uma balsa que atravessa o rio que separa o continente da ilha, no entanto, uma passagem pela pobreza. O hotel é um oasis em meio ao deserto. Entre os selecionados que podiam atravessar o rio, alguns trabalhadores. Mulheres fantasiadas de baiana com muito bom humor. É fácil encontrar a riqueza baiana.

Por falar nisso, a natureza é, sem dúvida, o maior bem do estado. Eu era a única calanga do grupo, sem praia no meu mundo, só eu pareci encantada com o litoral. E as árvores gigantescas, verdinhas.. no meio da floresta, flores. Achei tudo incrível. Fiquei feliz por ter conhecido esse pedaço de mundo e saber que ele existe.

Aliás, foi tão providencial essa viagem porque me fez vez que o mundo é grande, e é lindo. Estava bitolada com meu pequeno mundo, como se meus problemas fossem grandes. Não são. Grande é todo o resto que não conheço. Aquela floresta gigantesca que ao redor de mim enquanto caminhava 6km perdida entre uma caverna e um município. E as pessoas, todas que nunca me foram apresentadas - desde os atletas aos bêbados de Ilhéus (são muitos!). Foi um prazer me conhecer nelas!

Ilhéus
Ilha de Comandatuba, Una
Praia do Coroinha, Itacaré

6.8.13

"Nem tão feliz, nem tão triste. Estou sendo. Apenas sendo e isso me angustia às vezes. Não queria apenas ser. Tenho lido bastante, o que me tira da minha realidade e me leva pra vida dos outros. Encontro muitas respostas para mim própria em histórias alheias. Mas encontro muitas perguntas também. De qualquer forma, é bom, me faz sentir parte do mundo (logo eu que me sinto tão forasteira). Fico com a certeza de que alguém também sente o que sinto, e isso é um alívio. É a mesma sensação que tenho da sua amizade. Não sentimos exatamente a mesma coisa, mas vejo que você não trata a vida como algo perfeito, como as outras pessoas fazem. Você sofre, e você continua a viver mesmo assim, e você encontra beleza nisso. Você não me deixa sozinha no mundo e eu também nunca vou te deixar."

23.7.13

Re(encanto)

Fiquei sem rumo. Morri. Não há mais o que dizer. Eu morri, teve velório, vela e muito choro. Aqui, porém, renasço. Começo do zero em um mundo que não existe você. É difícil, pois a memória ainda persiste. As lembranças são fortes, são vivas e tão intensas ainda. Como aquelas pessoas que perdem uma perna, mas continuam sentindo dor, cócegas... Você é meu membro fantasma, meu coração.

É aqui que busco novos significados. Com você tudo era mágico, tudo tinha um porquê, era um desatino só, o coração flutuava. Perdi isso quando a gente disse adeus um ao outro. Aquele adeus até o dia seguinte, o momento seguinte, o futuro ali na frente. O adeus de mentirinha que matou a gente. Eu travei. Que boba. Agora sei que a vida não tem graça sem esse encanto todo, encanto que eu, até então, só me atrevia a usar com você. Agora, me liberto, amor. Renovo meus votos com a vida, me abro pra pureza dos sentimentos. Livro, enfim, meu coração.

PS: Hora dessas, paro de usar a primeira pessoa do plural. É uma promessa pra mim mesma. Eu preciso parar.

9.7.13

Calor.

Laguna Cejar - Deserto do Atacama

Eu tenho uma ânsia por vida, de vez em quando, que me inquieta tanto a ponto de dar calor. Estou assim sossegada, até que algo me atiça, seja uma fotografia, uma história, ou uma conversa sobre os desejos. Eu fico com calor. Minha pressão aumenta, meu sangue viaja mais rápido pelas veias e artérias, minhas partículas se agitam. É uma reação física.

Foi assim quando eu li os relatos de Beto Ambrosio, para fazer uma matéria. O cara tem todo o despreendimento do mundo e ao mesmo tempo é completamente apegado a tudo. Tão envolvido com a vida que resolveu largar o conforto do lar por dois anos e meio e foi, de bicicleta, viajar pela América Latina, registrando cada imagem desse universo lindo. As fotografias me fervem o sangue, fazem cócegas no pé e a vontade é de correr.

Hoje a tarde, foi um documentário sobre Chico Buarque. Aquelas letras, aquelas melodias, harmonias. A sensação é de que ainda tenho tanto para produzir. É a de que preciso fazer tanto ainda. Tenho que emocionar alguém, tenho que escrever, tenho que dançar, tenho que tocar... preciso fazer parte do mundo, ser um pedaço dele e me encontrar no sentimento dos outros, pra sentir que não sou tão só.
É assim que vou queimando por dentro. As coisas que me emocionam são como lenha na fogueira que carrego dentro do peito. Que bom que elas existem e me servem de combustível. Peço vento pra refrescar e levar meu barco à vela por aí.

11.6.13

Por onde andará?

De repente, um tuíte me desconcerta. Eu lá, quieta até ler. "Por onde andará @jraphaela?", eis que me pergunta um amigo de internet. "Por onde andarei?", eis que reforço a questão. O questionamento já vem de longa data. Não me encontro mais por aí. Não me acho com tanta facilidade entre os afazeres diários, as rotinas incessantes. Não me vejo fazendo as coisas que gosto. Não me deixo escrever por simples prazer. Me falta eu! E como faço falta para mim mesma.

Sou só uma sombra do que fui e um suspiro do que gostaria de ser. "Por onde tenho andado", me pergunto. Os caminhos são um tanto indesejados e muito preguiçosos. Acordo com vontade de dormir. Como com vontade de dormir. Vou para o trabalho com vontade de dormir. Volto para casa com vontade de dormir. Até que, enfim, durmo. E tudo começa novamente, outra vez, e outra. É na inconsciência do sono que encontro disposição para me ser.

As minhas vontades, os meus anseios? Acho que os esqueci em casa, antes de sair. Ou os deixei cair pelo caminho pisado. Não sou eu que acordo todos os dias, é apenas um reflexo torto de mim. É nesse contexto que me lembro de um trecho de música do Zeca Baleiro que se encaixa bem. Digo sem um pingo de orgulho, e com monte de vergonha. "Eu sinto como se eu seguisse os meus sapatos por ai".

Por isso respondo ao amigo @sergioricart: não sei, meu caro. Acho que me perdi por aí.

5.6.13

Respire fundo.

Foto: Jéssica Raphaela

27.5.13

Dos pais.

Como os vejo: amor e vida. Foto: Jéssica Raphaela

Ok, pais são pais. Têm o atributo básico de perturbar. De repetir a mesma orientação no mínimo dez vezes consecutivas. Os meus não são diferente disso. Ao contrário, são doutores, especialistas. Mas de uns tempos para cá, percebo quanta razão eles têm.

Quando Edilsa diz para eu não fazer algo, porque vai dar errado, ela, quase sempre, está certa. Eu, desobediente, faço. Lá está o errado me esperando. "Eu avisei, bichinha véa teimosa", ela se gaba. Essa paraibana que tem tanta dificuldade em demonstrar carinho. Essa mulher que me irrita como ninguém, e que me ensina como é preciso aceitar as pessoas como elas são, cada uma com suas limitações.

Levei 20 anos para começar a entendê-la, para começar a perceber o evidente amor discreto. Minha mãe não é uma mãe óbvia. Foi difícil lidar com isso a vida toda e vou dizer, ainda não é fácil. Mas assim como ela, todo o resto do mundo é complicado, é duro e seco por fora. Por dentro, no entanto, é amor, assim, puro e simples. Com ela, aprendi a enxergar melhor isso.

Já o Zé é pai de nascença. Veio ao mundo com essa função e faz jus à atribuição que Deus lhe deu. Eu lembro dele, todos os dias, indo dar o beijo de boa noite. Lembro dele às madrugadas no meu quarto, espantando os fantasmas dos meus medos. Lembro dele no tapete da sala brincando de ser criança com os três filhos.

Hoje o vejo fazendo o mesmo com os netos e sinto que ele vai ser assim a vida toda, uma eterna criança. E, Deus, como tenho orgulho disso! Meu pai me ensinou o que é ser íntegro, o que é ser humilde. E também me mostrou que a vida é leve, engraçada, que a seriedade é uma ilusão.

Engraçado como, depois de uma certa independência, criei um vínculo forte com eles. Quando não estão por perto, a vida desorganiza. Talvez seja essa a razão que os faz reforçar tantas vezes as orientações. É só eles se afastarem que eu as perco de vista. Que fiquem aqui, no espaço que é deles, e que só eles podem ocupar.

21.5.13

Mescla tristeza e alegria.
Preciso de um pouco de verdade aqui.

15.5.13

Às vezes, meu coração para por cinco segundos. E então dispara, no ritmo frenético de um ataque cardíaco.
Vou te falar: é uma das piores sensações do mundo.
Eu odeio que você faça eu me sentir assim.


12.5.13

Sai, silêncio.

Eu queria dizer bem mais do que tenho dito. Eu queria jogar as palavras na mesa, publicá-las no outdoor. Estou engasgada. Na ânsia de dizer, fico calada. Guardo no pensamento e tranco com um cadeado o qual nem a chave eu tenho. Eu queria dizer mais, vomitar os sentimentos. Eu os contenho. Do amor ao ódio. Os silencio em mim.

Se escrevia com constância, já não faço mais. Não por falta de tentativa ou vontade. As frases andam soltas na cabeça, em um trânsito caótico, esbarram umas nas outras, se misturam. Mas quando paro em frente à folha em branco, elas param, brincam de estátua. Alguma energia cósmica as congelam. Ou algum transtorno psicológico, um bloqueio criado por mim mesma. Ou, quem sabe, medo de julgamento externo, o que é bem possível.

Muitos me buscam nas minhas palavras. Me leem por meio delas. Os pobres termos, que são apenas conjunto de sons articulados, de uma ou mais sílabas, ficam sobrecarregados de significação. É muita responsabilidade para desabafos publicados sem edição de alguém capacitado. E outra: não se edita sentimentos. Apenas se escancara ou se guarda em segredo.

Tenho preferido esconder os meus. E já erro ao dizer aqui, publicamente, que os guardo. Mas prefiro dessa forma. Quero falar das coisas bonitas que sinto sem me importar demasiadamente com quem está lendo, se isso os fará feliz ou tristes. Já as coisas feias, um dia precisarei escrevê-las. Dos sofrimentos alheios. Das coisas que não consigo aceitar. Até os meus próprios pecados. Já não há lata de lixo suficiente para tanta sujeira que acumulo na lembrança.

Por ora, apenas preciso dizer que ando guardando palavras. E com elas, sentimentos e conclusões. Logo me retiro desse voto de silêncio involuntário e deixo essa agonia secreta se esvair, virar poeira, sumir no vento e só.

1.5.13

Eu te amo.
Eu não consigo pensar de outra maneira. Desculpa-me, mas eu te amo.

17.4.13

Vida. Música. Dança.

A graça da vida é colocar música no som logo de manhã e permanecer sozinha em casa sambando de pijama até o meio dia. A vida tem desses momentos sublimes, em que ninguém te vê e você consegue se ser por inteiro. Independe de motivos para felicidade e tristeza.

No limbo dos sentimentos, na confusão dos acontecimentos. O som ecoa pela sala, adentra os ouvidos, mexe o corpo, sacode os pensamentos. A vida acontece de graça, quase sem querer, nesta quarta-feira. 

Obrigada pelo corpo que insiste em cumprir as funções vitais, escolho a música para me manter de pé, em movimento. Mesmo que desajeitada, sigo o tom que a vida escolhe, sigo o ritmo, fecho os olhos e danço. 

Que as notas nunca faltem. E que eu nunca perca a vontade de executá-las.

instagram.com/jraphaela

4.4.13

We belong together.

A música na voz de Eddie Vedder. A lua cheia no telão. Eu pensei nele. Sei que ele também pensou em mim. Eu sei. E é tão fácil sentir.

23.3.13

Você odeia os dias que compõem uma semana inteira e ama apenas a metade de um deles. Ainda assim conclui: a vida é ótima e vale a pena!

17.3.13

12.3.13

Me sou.

Não sou desinibida. Tenho problemas de sociabilização, nada grave, mas eles existem e me afastam de bons momentos com pessoas. Se me cobrei ter amigos a vida inteira, hoje me dou ao luxo de ficar sozinha. Mas a verdade é que não me sinto constantemente confortável.

Deparo-me com o mesmo sentimento infantil de quem não arranjou um melhor amigo na primeira semana de aula. Cultivo o comportamento adolescente e rebelde de quem senta no canto-fundo da sala para observar todos e não ser observada por ninguém. Me sou, assim, de um jeito que me irrito às vezes.

Sou espectadora da felicidade alheia. A minha, guardo contida e dou como um tesouro para quem a quer compartilhar comigo. Me sou, secreta, sem balbúrdia e alvoroço. Me sou com os poucos que me abraçam. Sou os abraços que me faltam, da amiga que preferiu me abandonar pelo novo namorado. Nem era uma competição, era eu e ele, não eu ou ele. Gosto de soma, mesmo não sendo boa em matemática. Somar alegrias me parece bom.

Sou a saudade das ligações sem objetivo, 'só para saber como você está' e das 'só para mandar um beijo'. Não entendo a mágica que acontece, o beijo percorre os cabos telefônicos e estala na bochecha. Faz tempo que essa magia não acontece. Me sou na vontade de ter meus pais como companhia, vontade nova, que me remete ao tempo que me sentia insegura ao não tê-los ao alcance da vista. Sou de novo aquela criança chorando no meio do supermercado, sem saber que a mãe está ali, logo no corredor vizinho, escolhendo o saco de arroz para os almoços do mês.

Dos potenciais amores que vêm e vão, nenhum fica, nenhum amadurece. O que permanece é o sentimento que nasceu aos 16 anos, quando gostar era fácil, quando amar era suficiente. Esse é o tal do amor para a vida toda, que não se atreve a me deixar sozinha no mundo, nunca.


5.3.13

Dualidade.


Pensar em você é ter alegria e tristeza constantes, que convivem, disputam espaço em mim. Sorrio de leve e logo os músculos do rosto param de se contrair, o sorriso se esvai. Às vezes, é o contrário, a tristeza vem primeiro, mas um detalhe me faz contente.

Sou feliz por ter tido você comigo. Sou triste por não ter mais. Me perguntou o tempo todo em que esquina deixei esse negócio tão importante entre nós cair. Lamento. Sinta falta do que éramos. Saudade do que não somos mais.

28.2.13

Te leio.

Odeio esses tais pressentimentos que eu tenho. Porque eu sei, eu sei que estão certos. É como se eu já tivesse vivido o mesmo roteiro umas três vezes. Adivinho a próxima fala, o próximo ato. O instante seguinte se faz tão óbvio, mesmo que logicamente não pareça. Sei a sensação que me acomete antes de um transtorno. É ela que me dá a (quase) certeza de que vai dar errado, vou me decepcionar, vai ser uma merda, tudo, outra vez.

Eu sei, sabe?! É bem assim, no detalhe. Na palavra, que ali no contexto nem é tão importante. Mas sozinha, diz tudo, em cada vogal e consoante, em cada sílaba que se forma. Juntas dão sentido ao que não é visível no dia a dia. É ali, no piscar de olhos, no desvio de olhar, no movimento das mãos em direção à cabeça... É ali que prevejo o logo mais.

Não é preciso ser vidente. Basta saber ler os sinais. E mesmo sem ter me alfabetizado nesse idioma, percebo, pressinto.

12.2.13

A vontade.






Fotos: Jéssica Raphaela


Mar, te quiero.

10.2.13

Colore meu dia. Me acorda.


Às vezes é um instante
A tarde faz silêncio
O vento sopra a meu favor
Às vezes eu pressinto e é como uma saudade
De um tempo que ainda não passou
Me traz o seu sossego
Atrasa o meu relógio
Acalma a minha pressa
- Lenine -


Numa sequências de dias pesados, cinzas e, aparentemente, despropositados, surge um momento às avessas. Instante revolucionário, colorido, me liberta a alma. Saio da tristeza como quem acorda após uma noite longa de pesadelos.

Acordo e vejo: a vida não é um desses sonhos azuis com flores, mas ainda assim é bonita. Há um céu claro pela janela. Abro a persiana. Abro o peito. Abro a porta e saio. A grama é verde. A alegria gratuita se faz tão óbvia. Meu Deus, que bom que acordei. O sono denso não estava confortável. É a vida que eu quero. Está decidido e pronto.




30.1.13

Da paixão.

E foi lendo Carpinejar que me convenci que ele não está nem perto de estar apaixonado.

Foi relendo que entendi quem é louco por mim.

7.1.13

Desapego.

Sem ter noção do tempo, viveu com desapego à vida.
O momento.
Era dele que se alimentava com porções fartas.
Uma pequena aventura na mata. Um breve cafuné de um amigo. Um sorriso desconhecido num bar.
O único apego que teve, até a morte, era o desapego.
Amou cada instante, e foi feliz.

3.1.13

Seu amigo e seu bem.

"Se essa Lua fosse minha, ninguém chegava perto dela
a não ser eu e você "
Comigo - Zeca Baleiro 

weheartit.com

Falta você no céu.

Deitei no banco do quintal escuro. Emoldurei o céu. Não havia lua, ela não quis aparecer. Algumas poucas estrelas me fizeram companhia. A sua estava lá, brilhando como sempre. No dia que você me deu a lua de presente, te retribuí com a estrela mais brilhante do céu, não importava qual fosse. Se só houvesse uma lá  no alto, ainda assim você teria o seu presente, para sempre.

Eu olhei para o céu e entre a raiva e a agonia, a tristeza quis me fazer chorar. Pois bem, não chorei. Não quero chorar por algo que eu já esperava acontecer. E, embora a vontade de deixar as lágrimas caírem fosse grande, algo as impediam de descer olhos abaixo. Eu olhava para cima. Te busquei no alto. Você não estava lá. Apenas a estrela que te dei. Ela ainda é sua, e sempre será. A lua já não deve ser minha. Você a deu para outro alguém.

2.1.13

Entre o "seja feliz"que eu deveria dizer e o "vá tomar no cú" que eu gostaria de falar, opto pelo silêncio.